terça-feira, 8 de dezembro de 2009

02:02

chega essa hora da noite, madrugada adentro, me dá uma saudade de você. fala-se muito das trepadas matinais, mas acho que sempre me apeguei mais às trepadas noturnas, hora inspirada do dia, hora em que as obrigações já foram dormir, mas permanecemos atentos. saudade de ficar conversando contigo até altas horas, até que um lance qualquer, minha perna bate sem querer na tua perna, minha calcinha aparece de relance, tua boca de repente me chama e pronto, não tem mais saída. ou é só o que tem, múltiplas saídas para ir seguindo esse desejo que só faz crescer crescer c r e s c e r. isso faz uma falta, rapaz. não é só a hora da trepada, tem o antes e também o depois. a cama é o nosso refúgio, nossa igreja e nosso samba, nosso desmantelo, nossa preguiça, nosso carinho, até nossas farpas, nosso tesão, nossa timidez, nossa ousadia. depois tem tu tomando banho, a gente conversando besteira na cozinha, o tempo que não tem tempo e somos nós: às vezes me sinto a mulher mais besta do mundo.

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

can you hear me?

tenho te amado gostosinho. você tem sido o que eu espero de um homem: simples, carinhoso, dedicado, independente. sei que não és só isso e que não sou também a toda hora essa pessoa satisfeita, mas tenho gostado muito de estar pertinho de tu, de perceber inclusive nossas diferenças. tô muito empenhada em aceitá-las e a não ser uma mulher dura, que cobra demais ou que quer moldar ninguém. meu desafio de vida tem sido esse: aceitar, reconhecer, enxergar as pessoas como um todo, se assim é possível. meu desejo me parece tão autêntico, que até me pego me iludindo em relação às minhas neuroses. continuo, sou limitada, tenho também minhas dificuldades, reconheço-as. não quero que a gente entre num caminho de pedras por incapacidade pessoal minha, embora isso possa ser difícil de se querer. quero poder viver bem contigo, sabendo das nossas limitações, dificuldades, diferenças, quero que a gente se dê bem, com tudo que vier junto. quero ter a alegria de resolver questões e conseguir passar por dificuldades. quero te amar nos momentos complicados. quero ter contigo uma sensação de companheirismo e de parceria de vida. amor, te quero completa, me quero completa, vamos em frente.

sexta-feira, 30 de outubro de 2009

que me perdoem se eu insisto nesse tema

eu te disse muitas coisas e a mesma coisa muitas vezes.
virou ladainha, as palavras se esgotaram na repetição,
teus ouvidos saturados do meu discurso saturado.
cansamos os dois.
eu cansei das palavras e cansei também do teu silêncio.
(resta o quê?).
parecia que eu falava pra paredes. então desacreditei.
você há muito parecia ter desacreditado das minhas ameaças de ir embora.
e tantas vezes eu pensei em ir embora, meu deus. tantas vezes e não fui
[que passei a desacreditar que, de fato, iria]. eu dizia
e algo me dizia assim:
é blefe.
aí tu botava all-in na mesa, dominando o jogo, sabendo que minha mão não era forte.
tu foi fazendo tuas escolhas. e tu fazia o que queria.
toquinho, no rádio, cantava assim:


Que me perdoem se eu insisto neste tema
Mas não sei fazer poema ou canção
Que fale de outra coisa que não seja o amor
Se o quadradismo dos meus versos
Vai de encontro aos intelectos que não usam o coração como expressão

Você abusou, tirou partido de mim, abusou

Tirou partido de mim, abusou
Tirou partido de mim, abusou
Tirou partido de mim, abusou



e vinícius, assim:


Tantas você fez que ela cansou
Porque você, rapaz
Abusou da regra três
Onde menos vale mais
Da primeira vez ela chorou

Mas resolveu ficar
É que os momentos felizes
Tinham deixado raízes no seu penar
Depois perdeu a esperança
Porque o perdão também cansa de perdoar

Tem sempre o dia em que a casa cai
Pois vai curtir seu deserto, vai.
Mas deixe a lâmpada acesa
Se algum dia a tristeza quiser entrar
E uma bebida por perto
Porque você pode estar certo que vai chorar



cansei de perdoar.
desacreditei.
resta o quê?

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

seu desejo é uma ordem (ou: sou uma mulher solícita)

você me pediu muitas coisas enquanto estávamos naquela cama e fiz todas, com demasiado gosto, seu desejo é uma ordem, ou, como te disse: sou uma mulher solícita. acho uma beleza satisfazer desejos de homens cheios de graça assim como você. e você não foi nada besta, meu bem, me desarmou com elogios os mais diversos, noite adentro, afora, adiante. isso era o mínimo que eu poderia fazer, te satisfazer, me satisfazer, cair de boca, língua e o escambau, como é bom chegar as vias de fato, da carne, do prazer, do desejo, das delícias.
chupo mordo lambo faço refaço até com certa timidez ousadia às vezes viro desviro morro água gostosa gostoso geme sorrio é só se concentrar desces subo prendo e fico que delícia o tempo não tem tempo noite virando manhã a cama é pequena para nós. depois as pernas tremem, o coração escola de samba, o corpo estirado, uma chuva de suor, teu pau assim caidinho, aquela preguiça dos deuses.

vem, vem quando quiser-mos.

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

dia sim, dia não

Dia sim, te espero.
Dia não, desespero.
Dia sim, me enganas.
Dia não, me desengano.
Dia sim, me amas, me chamas, me clamas, me cheiras, me comes, me falas.
Dia não, tu te calas.
Dia sim, te ligo.
Dia não, desligas.
Dia sim, eu sinto.
Dia não, me ressinto.
Dia sim, ressuscitas.
Dia não, eu morro.
Dia sim, me procuras, me prometes, te perdôo, nos amamos, nos fartamos.
Dia não, tu enjoas.
Dia sim, eu exausta. Dia sim, eu grito, dia sim eu choro, dia sim abandono, dia sim me esqueço, dia sim adio, dia sin adeus, dia assim é foda,
dia desses desisto.

quarta-feira, 30 de setembro de 2009

uma cabeça, um coração, outras partes

nada de muito grandioso. aquela rotininha rotineira. às vezes um grande saco, em outras, algumas cores. a melhor hora tem sido a viagem de ônibus - quando vou sentada, claro - que é quando eu posso colocar música no ouvido e viajar em pensamentos, sonhos, devaneios. espacinho do dia onde me encontro em meio a um tanto em que me perco. como diria clarice: quero uma verdade inventada.
nada muito grandioso, como já disse. sempre gostei das coisas pequenas. até mesmo das coisas rotineiras - contas, pratos, shampoos - se nelas vejo uma brecha pra qualquer criaçãozinha que seja. gosto de mim para mim - não sei se é gósto, não sei se é gôsto. voltando, talvez a ilusão da não-repetição. calligaris diz: os seres humanos são mestres na repetição.
bom, fato é que pequenas coisas me apetecem, como bem falou o f. pessoa: na vida aquece ser pequeno. hoje tô cheia dos disses e dirias. a gente é mesmo um monte de gente.
e bem sei que o coração quando precisa de um tempo, dá tempo pra gente investir em otras cosas. tô falando a gente, não levem a mal. coisas que realizo com cuidadosa atenção. cosas pequenas, grandes ou médias. e também coisas sem tamanho. sonhar acordada é uma coisa sem tamanho, assim como sorrir para o espelho - ou chorar. e embora a gente viva declarando que não temos tempo, caio me tem feito perceber que: o tempo que temos, se estamos atentos, será sempre exato.
amanhã tem mais um dia. e depois tem outro. e outro.

percebi agora que falei mais das cores. algumas.

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

destinatários

Quantas vezes escutei, forçadamente, suas lamentações ao telefone, até minha orelha não mais agüentar, eu querendo dormir, eu querendo viver, eu querendo morrer e você ali, dando sempre um jeito de me prender. Marina Lima aquecendo meus ouvidos depois, pra que eu não esquecesse dos laços, dos nós, das mandingas: O que é que há com nós dois amor? Me responda, depois. Me diz por onde você me prende, por onde foge e o que pretende de mim.

Quantas vezes fiquei me perguntando se era isso mesmo, eu e você, primeiros namorados, até quando? Parecia que faltava algo, clichê que fosse: experiências, pessoas, liberdades. Eu fui, voltei, você ficou. Quando voltei parece que nos perdemos, digo isso sem muito acreditar. Acho que escolhemos nos perder. Pela idade.

Como doeu a porra da primeira vez, quantas tentativas rolaram, lembro-me tanto do “graças a deus” que entoei agudamente assim que o sangue desceu, tinha enfim perdido aquele lacre dos infernos. Você foi compreensivo, querido, como sempre, o tesão era ótimo.

Eu não entendia muito a tua família, eram meio ets, meio zumbis, você não se aproximava, eles não se aproximavam, contatos forçados, não havia muita naturalidade, eu dormia muito na tua casa, mas tua casa era teu quarto. Teu quarto era eu e tu e a solidão que não se nomeia.

Como eu adorava sentar no teu colo, dispensava todas as cadeiras do mundo, desde que você me deixasse sentar em você. Dormir agarrada contigo então, nem se fala. Contigo eu aprendi a gostar de aperto demais, e eles deixavam vestígios na pele, não me importava se no dia seguinte me perguntavam das marcas, no fundo eu pensava: do que adiantaria viver sem deixar rastros?

Tu era um homem de verdade. Tu me fazia mulher. Tu me elogiava na frente dos outros, me levava pra passear no teu carro, colocava no rádio uma música e cantava, me fazendo entender que era pra mim. Mas tu era muito sentimental desnecessariamente. Fazia um bicho por uma merda que eu dissesse. Tu era inseguro e pintava de leonino.

Contigo conheci o mundo dos motéis. Brincávamos que iríamos fazer um Manual dos Motéis, com dicas e apreciações pessoais por cada canto que tínhamos passado.

Não lembro de tu ter brochado comigo alguma vez.

Lembro das primeiras vezes que trepamos, desajeitados, pareciam que tinham tocado salsa e estávamos dançando afoxé. Ríamos, sem jeito, sem graça, sem vergonha. Com a prática viria o ritmo, como aconteceu. Aprendi contigo que intimidade nos leva a um paraíso sexual. Abrir as pernas só melhora.

Não esqueço do primeiro perrengue que passei, achando que podia estar grávida de tu. Só te contei depois. Homem nessas horas só atrapalham. Tu tinha muita vontade de ter uma filha parecida comigo. Tu acreditava nisso, eu acreditava nisso, desacreditar pra que?

Escrevi tantas cartas, bilhetes, te entreguei fotos e o meu amor nelas. Nunca posso me arrepender de ter me envolvido contigo, embora tu fosse um tanto preguiçoso e relaxado. De repente se tornasse pouco para mim, eras menino, eras aquela coisa de sempre, aqueles amigos, aquelas conversas. Não estavas errado. Eu que estava querendo remexer-me.

Fiquei na merda por causa de tu, varei noites e dias procurando sinais, e nada. Me escanteasse, me deixasse no limbo, sufocada, incompreendida, apaixonada. Sem nunca ter me dado um fora, sem ter me dado um não.

Fizesse eu saber que tu ainda gostava da outra, que ela te procurava incessantemente e que tu sofria por ela.

Nunca fui num motel contigo, a gente sarrava tanto na rua, na praia, no escuro.

Brochasse umas duas ou três vezes, acho.

Me apaixonei e desapaixonei mais do que isso. Cantamos tanto Caetano.

Ademais, chorei tanto, fiquei muda, bebi todas, fui compreensiva, te dei um abraço, te entendo, te odeio, te quero, te esqueci, me mudei, apaguei teu número, teu rosto, teu pinto, teu cheiro, não apaguei foi nada, amei, amei e amei, gozei tanto, nos dias de chuva nem se fala, dancei axé, forró, pagode, sambei horrores, não conseguia chorar, assisti filme, dormi a tarde inteira, tive insônia, escrevi.

terça-feira, 1 de setembro de 2009

caio,

agosto acabou e eu sobrevivi. estava certa de que setembro viria: é importante ter uma certezinha que seja (uma fé em qualquer coisa, não importa o quê, não é?) pra poder ir suportando as incertezas todas. sobrevivi aos trinta e um dias agostianos e poderia até dizer que de forma mais serena que outrora: sem usar palavras como “sempre” e “nunca” e sem arquitetar fugas de casa, da cidade, do país ou de mim. umas férias, quiçá, quem sabe. porque a gente cansa – e agosto é tão penosamente longo. mas não deixarei, caio, que agosto invada setembro. agosto já teve seu tempo, já deu seu recado, já deixou sua marca, (já enlouqueceu um cachorro) e já passou. sim, porque até a uva passa. a passagem para o outro instante é sempre iminente, clarice não me deixa esquecer.agosto se esgotou, caio. e cecília promete que a primavera chegará, mesmo que não se tenha jardim para recebê-la. agosto agora só ano que vem.

quinta-feira, 27 de agosto de 2009

sem título.

eu preciso contar do meu desejo teu. nos últimos dias, quando penso em você, minha excitação se alastra por todo meu corpo e pensamento: desde meu clitóris, minha vagina, vulva, buceta, bunda, pelves, bico do peito até a imagem mental da cabeça do teu pênis rígido, firme e vermelhinho. é uma energia maluca que sinto circular em meu corpo, minhas visceras, que me impele a todo segundo a te querer, a te procurar, a te enviar uma mensagem erótica convidando você pra transar comigo quatro vezes seguidas: sem parar e sem censuras – ! ai, eu quero e desejo te chupar todo neste momento!
e apaixonadamente lembro-me do dia em que fizeste exame ginecológico em mim: eu quero um ginecologista desse ao meu lado com plantão de 168h por semana!
quero trepar contigo, vem logo!

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

lembrancinha

- oi!!! eu trouxe uma lembrancinha pra tu!
- sério? que legal! cadê?
- tá aqui, ó: sabe que dia é hoje? hoje faz um ano que sentamos naquele bar, onde já fomos tantas outras vezes desde então, e conversamos sobre como você estava odiando morar em apartamento porque passou a vida inteira numa casa com terraço e quintal e como você estava se sentindo um pouco claustrofóbica e oprimida pelos vizinhos que policiavam os teus barulhos e, aliás, hoje eu entendo como eles devem ter sofrido com você porque, puta merda, tu fala alto pra caralho e escuta som no último volume, hoje em dia tua audição já deve tar uns 50% comprometida! eu falei pra tu não esquecer os motivos pelos quais você tinha decidido se mudar prum apartamento e aí conversamos sobre como a cidade anda violenta e como, pra evitar os assaltos, acabamos nos tornando prisioneiros, erguendo paredes cada vez mais altas e gradeando janelas. e aí você me falou assim: mas não pense que lembrar dos motivos porque eu me mudei faz com que eu sinta menos falta do meu ex-quintal. e aí eu não soube o que te dizer e dei um gole no meu décimo copo de cerveja. aí notei você num semi-sorriso distraído e fiquei tentando adivinhar que lembrança tava visitando a tua cabeça. e aí parece que você adivinhou que eu tava tentando adivinhar e disse ah, eu tava aqui lembrando que quando eu tinha 9 anos mas aí nesse momento eu preciso confessar que eu já não tava escutando mais nada do que você tava dizendo porque eu tava viajando no desenho dos teus lábios e também segurando uma vontade danada de ir mijar. acho que você reparou que eu não tava prestando atenção porque você começou a fazer uma rosa de guardanapo, se detendo demasiadamente nisso. aí eu aproveitei e fui mijar e quando voltei tu tava no celular e aquilo me incomodou um pouco não sei porquê. quando eu sentei, vi que tinham chegado os bolinhos de bacalhau que eu já nem lembrava que a gente tinha pedido. nesse dia eu fiquei pensando que bacalhau devia ser afrodisíaco porque depois dele a gente começou a conversar umas putarias entre gargalhadas que faziam parte de um jogo de a gente fingir que não sabia como seria o fim daquela noite. certamente não no teu apartamento, pra não incomodar os vizinhos. quando veio a conta, você teve que pagar ela inteira porque a máquina do cartão tava quebrada e eu não tinha dinheiro vivo e eu reclamei com o garçom como é que vocês não avisam isso logo no começo?! e você disse fica tranquilo mas eu tava me sentindo super humilhado no meu machismo. depois fomos ao meu apartamento e eu passei três minutos tentando abrir a porta de casa com a chave do carro e você riu longamente do meu estado, como se você não estivesse tão bêbada quanto eu. depois não tivemos tempo de chegar no quarto e transamos pela sala mesmo, e eu fiquei surpreso com uns truques seus e rimos um do outro durante o sexo, como tivéssemos a intimidade de velhos amantes. depois tu tomou banho no meu banheiro enquanto eu fui rapidamente na geladeira e comi um pedaço de pizza frio enquanto pensava em você e começava desde já a sentir a tua falta. hoje faz um ano que eu me apaixonei.

terça-feira, 11 de agosto de 2009

viver e escrever

c.,

também achei o dia bom, tanto ontem como hoje. fiquei feliz que você se esforçou pra sair de casa, já que você disse que tava precisando se distrair. fiquei feliz também de lhe ver, claro. e já fico meio assim sem saber quando vou te ver novamente, já que estás nesse clima meio vulnerável. às vezes tenho vontade de sair/ficar a sós contigo, pra conversar até mesmo sobre essas coisas todas da vida, e nos acalentarmos mutuamente, e cá entre nós, é tão melhor que msn. mas tenho ficado mais quietinha depois da nossa conversinha, ao menos tenho tentado. até porque é importante que exista vontade também do outro lado, do seu. andei lendo umas mensagens antigas tuas no celular, e me deu uma saudadinha, sabe? de como a gente tava, das coisas que você escrevia. não quero ser egoísta, c., de jeito nenhum, sei que o que estás passando não é fácil e não quero ser uma coisa a mais pra lhe entristecer, muito pelo contrário. minha vontade só é lhe dizer: vai passar, vai passar. e vai.
quando tu saiu daqui hoje eu tava bem, sabe. tava um dia aconchegante. o filme me deixou ainda mais aconchegadinha, me emocionei, fiquei reflexiva. de tarde dormi e acordei já de noite, um pouco atordoada pelo sono e por lembrar que era domingo. pensei em você e me deu vontade de estar mais perto de tu, ando sem muitas perspectivas quanto a isso devido aos últimos tempos, mas não posso dizer que eu não tenha vontade, sabe c.? acho que fico meio assim porque fui me acostumando nesses últimos meses a estar perto, a sentir e receber carinho, e depois que você ficou mais distantinho, continuei sentindo as coisas, e até certo ponto continuei lhe dizendo as fofurices todas, mas já não era a mesma coisa, né? principalmente da sua parte. te quero muito bem, sinto saudade de tu pertinho, de apertar e tudo o mais. sinto saudade da sua presença mais próxima, sinto como se você estivesse meio distante, e é por isso que acho que tô escrevendo. não é pra cobrar, como tu já deve saber, é só pra te dizer o que eu tô com vontade de dizer, já que ando cada vez menos tímida de te falar as coisas.

um beijo bem grande de coração
muita força pra você



(e pra mim)

terça-feira, 14 de julho de 2009

dobrado no fundo da gaveta (ou: as voltas que o mundo dá)

(texto de três anos de idade, escrito na época em que meu coração era de um baiano.
andei relendo e andei sentindo: o baiano em questão está indo de mala e cuia para além-mar.
saudades vão ficar.)


Completei, em março, um ano de namoro, mas só me dei conta de quanto tempo é isso agora, com esse tempo chuvoso que caracteriza o inverno de Recife. Sentindo o cheiro de terra molhada enquanto andava pela rua, a memória olfativa, mais forte que qualquer outra, me remeteu à exatamente um ano atrás, quando eu vivia o delicioso prazer de um começo de namoro. Era sentindo esse cheiro que a gente experimentava andar de mãos dadas e ria da alegria simples de estar com o outro. Era sujando de lama as barras da calça que a gente se dedicava a se conquistar, a e nossa relação tinha a leveza da chuva. Conhecer alguém é tão cheio das vantagens! Não há antecedentes, tudo na sua vida é uma história a contar para o outro; não há o peso de desentendimentos, brigas, ressentimento e dos maus hábitos que a gente cria em decorrência disso. Não foram tomados rumos. Não, só aquele delicioso prazer. De descobrir como o outro dá gargalhadas; ou flagrar um certo rubor no rosto; descobrir que estiveram num mesmo show, ou que adoraram um mesmo filme; descobrir um conhecido em comum.

Lembro de termos gazeado várias aulas na faculdade por conta da chuva. Eu passava a manhã na casa dele, e a gente fumava cigarros enquanto conversava sobre tudo nesse mundo, porque tudo era novidade, inclusive e principalmente a presença do outro. E quando a chuva caía eu sentia cheiro de terra molhada, e a brisa fria que hoje senti de novo. A chuva está definitivamente me fazendo resgatar algumas sensações que se perderam ao longo desse último ano. E já não me reconheço em muitas delas. Eu tinha asas na cabeça e me orgulhava da tranquilidade dos meus pensamentos. A liberdade era o não me preocupar. Eu sinto falta disso, mas só posso culpar a mim mesma das mudanças que meus pensamentos sofreram. Para sentir a paixão e o amor que eu estava me propondo a sentir, precisei me aprisionar em pensamentos que se tornaram recorrentes e aos poucos eu me tornei, com eles, outra. Por exemplo, internalizei o medo de perdê-lo e tornei isso tão meu que já não consigo não me preocupar se ele fala comigo de forma mais fria ou se está irritado e eu percebo que não consigo mais aliviar as chateações dele como antes ("Perto de você os problemas todos parecem ficar menos sérios", me disse certa vez). A dependência emocional que hoje sinto me angustia. Até porque isso não parece atingi-lo. Ele se mostra sempre tão seguro e auto-suficiente. Às vezes penso que se eu chegasse pra ele e dissesse que quero acabar o namoro ele me responderia "tudo bem". E lembro das vezes que me vi insistindo para que continuássemos juntos, como se precisasse convencê-lo. Numa dessas vezes ele me disse "eu andei pensando que a gente não tem mais aonde chegar". E essa frase simplesmente não pára de ferir. Tudo era tão promissor e belo naquela época de chuva. Eu me recuso a acreditar que isso tenha se esgotado, que o que a gente tinha pra viver já tenha sido vivido. Eu realmente odeio lembrar que ele disse isso. Acho que odeio porque às vezes considero a possibilidade de ele ter razão.

sábado, 27 de junho de 2009

Não se admire se um dia

,

Não sei te dizer o quanto morro e o quanto vivo na tua ausência. Toda vez que escuto essa música fico pensando em te escrever, pra que não esqueças: “faz tempo que não te vejo, quero matar meu desejo, te mando um monte de beijo, ai que saudade sem fim”. Também lembro tanto daquele dia, tu falando que música tão bonita e depois cantando no meu ouvido “morena flor do desejo, ai teu cheiro em meu lençol”, tu num sabe a volta que meu coração dá quando escuto essa música, essas palavras todas alinhadas desse jeitinho nessa sequência melodia ritmo som afeto.


Tu é daqueles sonhos reais, minha vontade de largar qualquer coisa e correr mundo, minha coragem e meu desapego. Minha crença na imprevisibilidade, na surpresa, no coração aumenta tanto porque um dia cruzei contigo. Com dinheiro na mão eu seria capaz de fazer qualquer loucurinha por nossa conta e responsabilidade. Tenho tanta vontade de te ver nu novamente, mais que isso, de te ver todo arrumadinho, cheiroso, uma delícia de homem, pessoa gente boa trocando só palavras boas comigo, diria gil: toda pessoa boa soa bem. Me lembro tanto do dia do nosso reencontro, aquele frio na barriga, eu dava tudo pra viver isso de novo, mesmo não me enganando da minha timidez e aflição. Tu tava tão bonito nesse dia, baiano. Lembro quase tudo da tua roupa, teu tênis, boné, e olhe que não sou nada boa nisso. Lembro de eu entrando no teu carro, tu surpreso com meu cabelo já maior. Eu dava tudo – repito abestalhadamente – pra viver isso algumas vezes todo ano. Lembro tanto de nossa conversa, nosso carinho nesse dia. Estávamos tão bons amigos, somos bons amigos e se formos contar ao todo, nem um mês tivemos de convivência cara a cara. Bateu, mexeu, virgem com virgem, Bahia e Pernambuco, axé, samba, calor, sol, o som do teu carro, teu carro, tua casa, teu cachorro, tua sobrinha linda tão linda, nós dois deitados num colchão no meio da cozinha. Por que essas coisas não duram pra sempre? – pergunto abestalhadamente. Queria muito te ver de novo, estou sentindo uma energia tão boa por tu esses dias, como há muito não. Tu é meu lado mais diferente e por isso me surpreendo. Tu é uma pessoa pra sempre.


Obs.: Outra música que me dá dor no coração de escutar: “pela sua cabeleira vermelha, pelos raios desse sol lilás, pelo fogo do seu corpo centelha, pelos raios desse sol”. Lembro agora daquele dia a gente na praia, despedida - muito engraçado isso de eu recordar com maior intensidade o dia do reencontro e o da despedida – final da tarde, vento na cara, consegui meu deus, com o maior esforço do mundo te dizer que foi bom, muito bom, do resto nem quero falar, parece que ainda é tão recente no meu corpo - embora já tenha corrido o calendário, embora nossos próprios corações já tenham dado voltas - como se fosse coisa novinha em folha, coisa que arrepia lembrar, aqueles instantes, cds, absorvente, sanduíche, celular, coração doidinho, tu falando da tua mãe, teu sotaque dando graça às palavras, eu já prevendo, antecipando, imaginando saudade saudade te quero. Sobrevivi, sobrevivemos. Saudade é uma coisa que mexe com a gente.


Obs2: Por que é tão difícil terminar de escrever isso aqui? Parece que tem ainda 3 litros de coisas, 20 quilos de lembranças, afetos, desejos, 300 milhões de palavras-sentimentos. Por que é tão difícil terminar? - Me pergunto abest...


segunda-feira, 8 de junho de 2009

europa, áfrica e bahia

foi numa encruzilhada, num dia doido, galinhas pretas e rosas brancas nos quatro cantos, exus zombeteiros abrindo caminhos a nos unir, axés, cachaças, atabaques, o preto velho, o caboclo, a pomba gira, a porra toda. tu vinha de branco; eu, de preto. eu branca, tu negro. eu europa, tu áfrica. eu oxum, tu xangô.

foi numa encruzilhada, num dia doido, semáforo quebrado, buzinas histéricas, pressa, multa, atraso, assalto, a porra toda. avenidas engarrafadas a nos unir. eu de carro, tu de ônibus, eu indo, tu voltando, eu sem tempo, tu com calma, tu com alma, eu com medo. tu ia, eu fugia. olhei pro lado, te desencontrei, fui pra bahia.

fui pra áfrica, voltei da áfrica, tu foi pra europa, voltou da europa. nos encontramos numa sexta-feira de oxalá, sexta-feira da paixão, sexta-feira santa, ai, minha santa, que páscoa profana! europa e áfrica se misturando, se confundindo, se fundindo, europáfrica, eurofrica, euca, sonho de unificação, retorno à pangéia, ao éden, ao útero. como seria lindo um filho nosso, café com leite, feijão com arroz, bem-casado, américa.

exus zombeteiros e semáforos quebrados em encruzilhadas, distâncias continentais a nos unir, é mandinga, é destino, é acaso, 6 bilhões e nós aqui, êta terreiro grande!, o mundo inteiro o nosso ilê, pois que somos herdeiros de adão. e é tanto chão, tanto mar, tanto caminho e (pra tu, que és de voar) tanto céu, que nossos encontros não são destinos ou acasos. ah, neguinho, são milagre.

terça-feira, 2 de junho de 2009

sobre coisas urgentes

ao deitar, colocar perna sobre perna, sufocar de tanto cheiro, sentir um calor de estar pertinho, emitir barulhos incompreensíveis, desgrenhar cabelo, coçar barba, puxar pêlos das coxas, apertar bunda, não esquecer dos grunhidos, emendar com uns sussuros, chamando de coisa gostosa, que saudade, não te solto, vem pra mim, etc.
o que pode ter de mais urgente do que sentar no teu colo, tu me abraçando pelas costas, enroscando pela barriga, encostando cabeça, beijando chuachuachuac sem parar, mordendo braço, beliscando perna, vice-versa, o que pode ser mais urgente do que fazereceber uns carinhos-malvadeza euetu, meu deus?
no calendário existem provas, estudos, trabalhos à vista. por conta disso pode até bater uma culpa, mas sei que a culpa maior seria abdicar do outro querido querendo maisemaisemais, coração tumtumtum.
somos tão desnecessários e não tem coisa mais urgente.


de ouvido, me recordo:
os livros na estante

já não têm mais
tanta importância
do muito que eu li
do pouco que eu sei
nada me resta
a não ser
a vontade de te encontrar
e o motivo eu já nem sei
nem que seja só para estar
ao teu lado só pra ler
no teu rosto
uma mensagem de amor
(herbert vianna)

outras letras assinalam:
em qualquer tempo
seco ou molhado
qualquer quarto
ou morada
(escuro ou claro)
o minuto cobra:
a direção dos pés
a intensidade das mãos
(http://www.palavraedestino.blogspot.com)

sexta-feira, 29 de maio de 2009

e muito mais

aí depois de uma meia hora falando de sexo e se provocando com palavras, ele se dá conta de algo que faz questão de esclarecer: mas não é só sexo, senão a gente não tinha chegado tão longe. do outro lado de linha eu sorrio e, como sempre tô me lembrando de alguma música, canto pra ele, foi mistério e desejo, e muito mais, foi divino brinquedo, e muito mais... aí ele completa o refrão, com aquela voz grave que eu adoro, se amar como dois animais. ficamos uns segundos calados e aí ele começa dizendo dia desses eu tava falando de tu pros meninos... eu interrompo, tu fala de mim?! é... eu tava falando de como não é só porque tu é bonita e sexy. é a tua companhia, é a tua cabeça, são as nossas conversas, é o teu cheiro. eu digo pra ele que adoro quando ele diz que gosta de mim e como era bom ouvir isso agora, que ele tava sóbrio, porque geralmente ele tá bêbado quando fala dessas coisas. eu digo isso sempre, você que não entende. eu me calo tentando rememorar todas as conversas que tivemos desde: quando mesmo? pra ver se consigo descobrir em que frases estava escondida a deliciosa declaração. não consigo. também não importa, mesmo sem entender, eu sinto, mesmo sem entender, eu vivo, mesmo sem entender, eu sei. é mistério, é segredo, é muito mais.

quarta-feira, 27 de maio de 2009

balé de dois

tu na minha cama, tu tirasse a camisa, tu moreninho, fortinho, penso: que delícia: digo. tua pele tão lisa que parecia que tinha passado um creme qualquer, embora não. tua bunda é tão durinha, lembra a de um outro, assim como o corpo magro e gostoso. tu é pequenininho, encaixa em mim que é uma beleza. teu pau é grande, é firme, vou me adaptando, ângulos e velocidades. como foi com teu beijo, tua língua hábil, lábios, salivas e respirações. tu descobrindo novos cantos, eu sendo novos caminhos, nós viajando em espaços, cócegas e arrepios. a gente tem sido quente, dá vontade de me encochar em tu por tempos, te prender com as pernas, dar um nó, balé de dois. a gente brinca de corpo. a gente é corpo. e corpo é uma delícia.

quinta-feira, 21 de maio de 2009

saudade apertada no coração

é uma saudade apertada no coração que deixa ele suspenso dentro de mim e bem pequenininho, como uma semente de morango. entre as horas mais agitadas, fluidas e corridas de meu dia surge em minha mente curtos momentos onde as cenas da gente invadem minha cabeça, meu corpo e coração. e a cada segundo aumenta minha vontade de você. ah! - como dirias tu mesmo - tu me respirando e tentando descobrir o cheiro que exala de minha pele: o de quem acabou de fazer amor. a gente chegando nas pontinhas dos pés a tua casa, tu bêbado; eu besta e apaixonada olhando cada passo por ti dado, em qualquer direção.
e surpreendo-me com tuas novidades e teus caminhos.
tu agressivo a me fazer as cócegas mais engraçadas, sorridentes e “gargalhosas” que já levei... tao intensas e gostosas; eu fortemente a me esquivar rindo e amando. a gente transando, trepando, fazendo amor, sexo, carinho. tu em baixo, eu em cima, em pe, de lado, sentado, de quatro, cinco, seis, oito, mil...
e sou tesão.
eu mordendo e lambendo tu todo, tu me chupando e olhando... eu te pegando, tu me tocando. as minhas caras, as tuas palavras... tu se encolhendo arrepiado; eu te beijando, tu me instigando. ai.
dente, lingua, mao, dedo, bunda, costas, unhas, pele, peito, pau, periquita.
eu, tu, eu, tu, eu, tu.
(...)
e completamente me excito.
tu roncando e dormindo pelado ao meu lado, com pau duro, eu te olhando... teus pelos, nariz, boca, olhos e respiração; tu, sem nenhuma inibição, todo lindo a tomar banho de olhos fechados, eu, abraço molhado e mãos deslizando sobre ti. o nosso beijo. eu usando aquela toalha amarela com teu cheiro... ah, o teu cheiro; tu fumando cigarro com aquele olhar distante, mirando o navio no horizonte pela janela, eu te secando todo. nosso café da manha. a gente caminhando na praia em um dia cinza, frio e chuvoso. o tempo passando e a lua por vir. volto a minha casa e tu te voltas pra ti, e viaja literalmente.
e eu fico aqui com tanta saudade apertada no coração.

quarta-feira, 20 de maio de 2009

sou tímida mas rebolo

tenho me envolvido e acho até que sou (estou) um pouco apressada, não gosto de ficar na enrolação, na vagareza, no miudinho, quero sempre chegar nos finalmentes, onde os passos podem ser maiores, ganhos e perdas, as presenças mais íntimas. não gosto de parar quando posso continuar. sou tímida mas rebolo. por mim eu já chamava de meu amor, engatava um namoro e ia pra um motel comemorar. não gosto de ter calma quando o coração acelera, se é pra destilar veneno, seguir pelo mal caminho, here i go. mas também sei que não posso dar conta de duas pessoas sozinha.

sou do tipo que lança e aguarda as repercussões, não sei ser carruagem, trem, automóvel, avião, indicando caminhos e velocidades. fico no vai-e-vem, no movimento fluidez, entre o que se fala e o se escuta, embarco, mas só navego se o mar me abriga. mas arrisco - e muito. principalmente nas palavras. não sossego se empaco em certos dizeres, nesses casos costumo fazer uso das palavras escritas, elas vão, eu morro do coração: foram, vivi. não tenho ansiedade em distinguir paixão de amor.

acho que hoje em dia eu cometeria a 'imprudência' de me envolver com denominações (namoro) com uma pessoa ainda no início do encanto, cansei de esperar, o tempo é vasto, o vento é diário. não tenho mais talento para jogo duro, 0x0, defesas, precauções. coração que lateja quer ir logo pra área, chute a gol, contra que seja, pênalti e o escambau.

domingo, 3 de maio de 2009

quando dói a gente escreve, hoje é domingo.

sonho é: tudo arrumado no meu quarto: papéis, lençóis, fotos, papéis, roupas, bolsas, papéis, papéis, papéis, e também as coisas que nunca têm lugar, só afeto. tudo arrumado na minha pasta, todos as pendências devidamente realizadas, entregues, carimbadas, todos os textos acadêmicos escritos e aceitos, todos os e-mails respondidos. a desorganização e procrastinação que minha vida se tornou, e a falta de força (motivação, coragem, desejo) para sair dessa condição espalham little angsts along the week, mas a maior parcela sobra sempre pro domingo à noite, coração apertado paralisando as ações práticas e insuportáveis. vou levando como posso, tento não sofrer tanto, sofro. mas sorrio bastante também e danço. dou mais importância às coisas do coração, as que batem e ficam, as que não precisam de esforço, as que me escolhem e para as quais sou escolhida, as que podem doer ou aliviar, it doesn't matter, são desejo, são caminho, inspiração, respiração, saliva, valem meu tempo, meu corpo, alma, espírito. cansei dos percursos inutéis, das órbitas burocráticas, que são aparência e futuro. quero o presente, movimentar a energia diária, criação, implicação, disposição. tomar pra mim a minha vida, tornar cada vez mais minha, cada vez mais vida, me sentir em casa com o que é meu, fazer o melhor com o que sinto, o que sinto é tudo que eu tenho e é aí onde sou. espero tanto conseguir dar os passos possíveis para que a distância entre ser e fazer sejam minimizadas. saravá!

domingo, 26 de abril de 2009

ai ai

pra quem andava com saudade de aperto, acocho, abraço, cafuné, aconchego, alisado, mordidinha, pele, corpo, língua, bem agarradinho com rostinho coladinho,

aparece um chuchu desses.

quarta-feira, 15 de abril de 2009

aqui dentro de mim.

na busca de paz aqui dentro, te escrevi um e-mail demarcando o ponto final desta historia. é que nao mais suporto esta eterna dor tão voraz. entre nossos carinhos e afagos um muro bem duro e grosso de concreto foi construindo. entre as palavras emitidas por teus labios carnudos e meus ouvidos secos há um vacuo distorcendo os sons quando te escuto, com minh'alma. e assim, nao posso mais com a gente, com o nós.
é que não há mais.
estou no mais profundo de mim, e me atormenta a queda ou o crescimento. por isto estou fraca, feia e fútil. respiro por uma força qualquer que me indique destino algum.
nao posso mais.
preciso de paz aqui dentro.

por Ana Flora

terça-feira, 14 de abril de 2009

hoje eu sou toda saudade

não adianta, hoje eu sou toda saudade. teu cheiro ainda rondando pelo quarto, tua toalha ainda úmida por causa do tempo frio, os objetos todos que, diante da tua presença, ficaram como que encantados. antes eram apenas objetos que pouco me diziam. hoje acordaram: a cama que você dormiu, o sabonete que você usou, a cadeira onde você apoiou as roupas, a fotografia que você olhou, o livro que li pra você. hoje não tem cinza que tire esse colorido. e olhe que o dia foi de chuva. hoje eu sonhei acordada com tudo que ontem foi tão real, tão vivo, tão intenso; hoje, saudade. você fazendo carinho na minha cabeça enquanto eu dirijo, a gente em pé abraçados, abrigados da chuva, eu deitada no teu peito dentro do carro, você esquentando o leite, a gente querendo desacelerar o tempo. tudo, tudo tão intenso, justamente pela consciência de que se tratava de um momento muito pontual e especial, sem promessas de um a posteriori. éramos ali, inteiros, completos, sem faltas, vivendo só de amor. mas havia um prazo. foram dois dias de não querer nada mais da vida. mas dois dias vividos tão intensamente que parece que todo o resto ficou num "para trás" muito distante. tanto que hoje, quando acordei sozinha, achei estranho não ter você ali, o quarto vazio de você, o chuveiro vazio do teu banho, a chuva vazia da tua presença solar. é como se você tivesse acordado comigo por anos e anos, e por muito tempo eu não soubesse o que é não acordar ao teu lado. dois dias tiveram a força de fazer com que eu desaprendesse a tua ausência. tanto que hoje nada pareceu muito real. eu custei a levantar da cama, acordei me sentindo um pouco tonta, me demorei olhando os objetos do banheiro, uma saudade provocada por tudo que foi testemunha dos nossos dias. escolhi usar a mesma blusa azul que usei na primeira manhã, numa tentativa meio boba de sentir que você ainda estava por perto. a blusa azul era você, me envolvendo, não me deixando, ficando bem pertinho do meu corpo, abraçado. hoje você foi o dono dos meus pensamentos. como tem sido nos últimos meses. só que hoje foi saudade colorida. foi saudade que teve restos de cheiro pra aspirar e suspirar, foi saudade de beijos ainda frescos na boca, nuca, ombros, alma. foi saudade ouvindo as músicas dos cds que você me emprestou. e nesse ponto, eu chego numa esperança gostosa de depois: cds emprestados. cds emprestados pressupõem novo encontro, para devolução. cds emprestados são uma promessa de que não nos esqueceremos, de que há algo pelo que esperar. minhas saudades hoje são coloridas, e não sufocantes, porque você me emprestou cds.

quinta-feira, 2 de abril de 2009

assim:

você na minha frente. teu rosto, teus braços, tua barba. você de costas lavando pratos de sunga. um abraço. você nítido, você claro, você luz.
eu nítida, clara, eu luz. seus gestos não programados, suas palavras de amor, seus silêncios de amor. sua vibração, seu cheiro, sua coxa firme, que eu aperto mais cada vez que o carro freia. teu suor, minha saída, senha, sina, sigo. na tua gostosura. ai que saudade do teu corpinho.

abrindo

abrindo a janela para circular o ar e movimentar as energias. sejamos bem-vindas!