sábado, 27 de junho de 2009

Não se admire se um dia

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Não sei te dizer o quanto morro e o quanto vivo na tua ausência. Toda vez que escuto essa música fico pensando em te escrever, pra que não esqueças: “faz tempo que não te vejo, quero matar meu desejo, te mando um monte de beijo, ai que saudade sem fim”. Também lembro tanto daquele dia, tu falando que música tão bonita e depois cantando no meu ouvido “morena flor do desejo, ai teu cheiro em meu lençol”, tu num sabe a volta que meu coração dá quando escuto essa música, essas palavras todas alinhadas desse jeitinho nessa sequência melodia ritmo som afeto.


Tu é daqueles sonhos reais, minha vontade de largar qualquer coisa e correr mundo, minha coragem e meu desapego. Minha crença na imprevisibilidade, na surpresa, no coração aumenta tanto porque um dia cruzei contigo. Com dinheiro na mão eu seria capaz de fazer qualquer loucurinha por nossa conta e responsabilidade. Tenho tanta vontade de te ver nu novamente, mais que isso, de te ver todo arrumadinho, cheiroso, uma delícia de homem, pessoa gente boa trocando só palavras boas comigo, diria gil: toda pessoa boa soa bem. Me lembro tanto do dia do nosso reencontro, aquele frio na barriga, eu dava tudo pra viver isso de novo, mesmo não me enganando da minha timidez e aflição. Tu tava tão bonito nesse dia, baiano. Lembro quase tudo da tua roupa, teu tênis, boné, e olhe que não sou nada boa nisso. Lembro de eu entrando no teu carro, tu surpreso com meu cabelo já maior. Eu dava tudo – repito abestalhadamente – pra viver isso algumas vezes todo ano. Lembro tanto de nossa conversa, nosso carinho nesse dia. Estávamos tão bons amigos, somos bons amigos e se formos contar ao todo, nem um mês tivemos de convivência cara a cara. Bateu, mexeu, virgem com virgem, Bahia e Pernambuco, axé, samba, calor, sol, o som do teu carro, teu carro, tua casa, teu cachorro, tua sobrinha linda tão linda, nós dois deitados num colchão no meio da cozinha. Por que essas coisas não duram pra sempre? – pergunto abestalhadamente. Queria muito te ver de novo, estou sentindo uma energia tão boa por tu esses dias, como há muito não. Tu é meu lado mais diferente e por isso me surpreendo. Tu é uma pessoa pra sempre.


Obs.: Outra música que me dá dor no coração de escutar: “pela sua cabeleira vermelha, pelos raios desse sol lilás, pelo fogo do seu corpo centelha, pelos raios desse sol”. Lembro agora daquele dia a gente na praia, despedida - muito engraçado isso de eu recordar com maior intensidade o dia do reencontro e o da despedida – final da tarde, vento na cara, consegui meu deus, com o maior esforço do mundo te dizer que foi bom, muito bom, do resto nem quero falar, parece que ainda é tão recente no meu corpo - embora já tenha corrido o calendário, embora nossos próprios corações já tenham dado voltas - como se fosse coisa novinha em folha, coisa que arrepia lembrar, aqueles instantes, cds, absorvente, sanduíche, celular, coração doidinho, tu falando da tua mãe, teu sotaque dando graça às palavras, eu já prevendo, antecipando, imaginando saudade saudade te quero. Sobrevivi, sobrevivemos. Saudade é uma coisa que mexe com a gente.


Obs2: Por que é tão difícil terminar de escrever isso aqui? Parece que tem ainda 3 litros de coisas, 20 quilos de lembranças, afetos, desejos, 300 milhões de palavras-sentimentos. Por que é tão difícil terminar? - Me pergunto abest...


segunda-feira, 8 de junho de 2009

europa, áfrica e bahia

foi numa encruzilhada, num dia doido, galinhas pretas e rosas brancas nos quatro cantos, exus zombeteiros abrindo caminhos a nos unir, axés, cachaças, atabaques, o preto velho, o caboclo, a pomba gira, a porra toda. tu vinha de branco; eu, de preto. eu branca, tu negro. eu europa, tu áfrica. eu oxum, tu xangô.

foi numa encruzilhada, num dia doido, semáforo quebrado, buzinas histéricas, pressa, multa, atraso, assalto, a porra toda. avenidas engarrafadas a nos unir. eu de carro, tu de ônibus, eu indo, tu voltando, eu sem tempo, tu com calma, tu com alma, eu com medo. tu ia, eu fugia. olhei pro lado, te desencontrei, fui pra bahia.

fui pra áfrica, voltei da áfrica, tu foi pra europa, voltou da europa. nos encontramos numa sexta-feira de oxalá, sexta-feira da paixão, sexta-feira santa, ai, minha santa, que páscoa profana! europa e áfrica se misturando, se confundindo, se fundindo, europáfrica, eurofrica, euca, sonho de unificação, retorno à pangéia, ao éden, ao útero. como seria lindo um filho nosso, café com leite, feijão com arroz, bem-casado, américa.

exus zombeteiros e semáforos quebrados em encruzilhadas, distâncias continentais a nos unir, é mandinga, é destino, é acaso, 6 bilhões e nós aqui, êta terreiro grande!, o mundo inteiro o nosso ilê, pois que somos herdeiros de adão. e é tanto chão, tanto mar, tanto caminho e (pra tu, que és de voar) tanto céu, que nossos encontros não são destinos ou acasos. ah, neguinho, são milagre.

terça-feira, 2 de junho de 2009

sobre coisas urgentes

ao deitar, colocar perna sobre perna, sufocar de tanto cheiro, sentir um calor de estar pertinho, emitir barulhos incompreensíveis, desgrenhar cabelo, coçar barba, puxar pêlos das coxas, apertar bunda, não esquecer dos grunhidos, emendar com uns sussuros, chamando de coisa gostosa, que saudade, não te solto, vem pra mim, etc.
o que pode ter de mais urgente do que sentar no teu colo, tu me abraçando pelas costas, enroscando pela barriga, encostando cabeça, beijando chuachuachuac sem parar, mordendo braço, beliscando perna, vice-versa, o que pode ser mais urgente do que fazereceber uns carinhos-malvadeza euetu, meu deus?
no calendário existem provas, estudos, trabalhos à vista. por conta disso pode até bater uma culpa, mas sei que a culpa maior seria abdicar do outro querido querendo maisemaisemais, coração tumtumtum.
somos tão desnecessários e não tem coisa mais urgente.


de ouvido, me recordo:
os livros na estante

já não têm mais
tanta importância
do muito que eu li
do pouco que eu sei
nada me resta
a não ser
a vontade de te encontrar
e o motivo eu já nem sei
nem que seja só para estar
ao teu lado só pra ler
no teu rosto
uma mensagem de amor
(herbert vianna)

outras letras assinalam:
em qualquer tempo
seco ou molhado
qualquer quarto
ou morada
(escuro ou claro)
o minuto cobra:
a direção dos pés
a intensidade das mãos
(http://www.palavraedestino.blogspot.com)