segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

de anos para cá.

todos os dias são iguais: desperto-me contrariada, está ainda muito cedo, fecho os olhos e viro-me na cama. subitamente levanto-me atrasada, passaram-se já trinta ou quarenta minutos, porém despreocupada me arrumo, pois não serei privada de aprender grandes coisas por isto. sem vontade caminho até a parada do ônibus. viajo. durmo novamente. acordo com qualquer mal educado batendo com seu cotovelo em minha cabeça. não me pede perdão. suspiro. conto até dez para não reclamar daquele homem fedorento possuidor de sofridas expressões em seu rosto... também para não levar pancadas machistas e preconceituosas. respiro, durmo, e vejo em preto e branco garotos violentos batendo em meninas que aspiram aprender manobras no skate dos irmãos. Um buraco na rua e um bruto freio abrem-me os olhos e nada mais de útil posso fazer ate que chegue ao meu destino. logo estou na universidade. atento ao professor ou a qualquer pessoa que se diz ter estudado um pouco mais: nada de novo e empolgante. pontuações sao repetidas desde meu primeiro período. indago-me sobre as mascara dos alunos: aprender pra que? se estou já na universidade e preciso apenas de um corpo sarado, do último celular, de uma roupinha descolada, do carro no estacionamentoe de qualquer dinheiro que pague a cachaça do fim de semana. Também, claro, de alguém para trepar de qualquer maneira no ambiente privado, e depois me gabar para o público do jeito mais aparente possível. volto entao a dormi e fecho os olhos pra essa realidade. ouco o barulho do intervalo, graças a deus. conto cada segundo que falta para sair daquela universidade de brancos felizes, saudáveis, interessantes, heterossexuais, limpos, inteligentes e "cheios de valores". necessito utilizar o toalete, corro. não há filas e sim tumúlto, competicoes e brigas por espelhos. encontro então na privada um cesto de lixo que impossibilitou sua funcionalidade, no segundo banheironão havia papel higiênico e eu estava menstruada. o terceira deveria ser utilizada por deficientes físicos, “os fantasmas” daquela instituição: aquele banheiro era um verdadeiro depósito de pano de chão sujo, de baratas, de baldes com lama, de madeiras e papeis espalhados por todos os lados. Me mijando nas calcas subi as escadas, tapei meu nariz e olhos - nada de respiração, cores ou cheiros: apenas merda. volto à minha classe e um aluno qualquer grita saltitante, informa que o problema de saúde do professor se agravou: todos retornarao a suas casa mais cedo.
a casa dos meus pais é a casa da alegria: não se pode estar triste, a solidão não tem espaço, eu tenho que estar sempre atendendo suas expectativas: tenho que sorrir, tenho que conversar, tenho que me organizar, tenho que estudar, tenho que ler, tenho que me interessar por atualidades publicadas nos jornais... na casa dos meus pais eu não posso ser, eu apenas finjo. as vezes ate internalizo que sou um exemplo de garota. na casa deles ligo o computador e escrevo qualquer coisa que possa fazê-los pensar que estou estudando. tranco-me no meu quarto, mas estou na casa deles e logo invadem “meu” espaço sem pedir permissão: recebo ordens. papai e mamae não pedem favores. Angustiada, coloco qualquer música no volume tal que não me permita ouvir aquele mundo chato e desrespeitoso lá fora: choro, sinto e morro. eu morro.
sobrevivendo leio qualquer livro ou bula de medicamento que faça o tempo passar mais rápido. navego por um site da vida bonitinha e interessante das outras pessoas: suas vitrines estão sempre mais belas e interessantes que a minha. mudo o vício, conecto-me ao messenger. baterei papo com amigos.
eita, eita... encontrei uma motivação: o amor. vou me apaixonar, quem sabe não volto a acreditar nesta ilusão; encontrarei um "mocinho super", compartilharemos momentos juntos, transaremos, ele dirá que sou legal, bonitinha, que estaremos sempre lado ao lado, sonharemos cor de rosa, rolará altos carinhos, um dia dirá que sou legal e que passaria no mínimo uns 20 anos dormindo comigo: tudo que não acredito.
ficarei só: bem melhor pra mim.
estou amarga, sinto que vivem por mim, eu me deixo ser vivida.
meus dias são os mesmos, sempre.
fins de semana todos saem para os mesmo lugares, encontram as mesmas pessoas, vestem as mesmas roupas, falam sobre as mesmas coisas, bebem pra caralho, paqueram um pouco e esta é a rotina dos fins de semana. Plim. vive-se a espera desses dois dias: o sábado e domingo. e só, mais nada.
sim, mas tenho que acabar de dizer como são meus dias (in)úteis, de segunda a sexta. A tarde, na casa dos meus pais, uso o computador, leio, escuto música e vou fazer alguma atividade física pois dizem que faz bem a saúde, mas a verdade é que as pessoas almejam um corpinho escultural: a época do culto ao corpo. O corpo temporal que envelhece, perde água, se enche de peles e rugas, e que cada vez mais são escondidas. o corpo que se putrefa e que se decompoe onde ninguém devia ter saído: no solo. E mesmo assim ainda faço exercício físico. volto pra casa e comemoro porque o dia passou, e porque amanha ja será o outro dia. Igual a todos...

Um comentário:

  1. Querida, estou feliz em descobrir que você continua escrevendo e cresceu e se tornou uma mulher tão linda. Muita coisa passou desde aquela "cobrinha" e você continuou fiel à sua sensibilidade e sua escrita. Isso é admirável.

    Continue viva!

    Abraços.

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